Cruzeiro x São Paulo: Jardim poupa só um, Pereira decide e Raposa encosta no líder

Cruzeiro x São Paulo: Jardim poupa só um, Pereira decide e Raposa encosta no líder ago, 31 2025

Noite de Mineirão com cara de decisão

Jogo grande, sábado à noite, Mineirão cheio e muito em jogo. O Cruzeiro x São Paulo desta 22ª rodada do Brasileirão colocou frente a frente um time embalado e outro tentando confirmar reação. A Raposa entrou em campo em 3º lugar, com 41 pontos, de olho em reduzir a distância para o líder Flamengo, então com 46. O Tricolor, em 7º com 32, mirava a segunda vitória seguida para se aproximar do G-6. Deu Cruzeiro: 1 a 0, gol de Matheus Pereira aos 64 minutos, vitória de time que sabe o que quer.

Leonardo Jardim escolheu a continuidade. Depois de bater o Atlético-MG por 2 a 0 na Copa do Brasil, o treinador mexeu o mínimo possível: descansou apenas Christian e lançou Matheus Henrique. A mensagem foi clara: preservar a identidade, manter a mão pesada no nível de concentração e aproveitar o bom momento. Do outro lado, Hernán Crespo mexeu mais. Promoveu três entradas – Patryck, Rodriguinho e Luciano – para ganhar perna pelos lados, conexão por dentro e presença diária na área.

As formações confirmadas deixaram o roteiro à mostra. O Cruzeiro em 4-2-2-2, com Cassio; William, Fabricio Bruno, Lucas Villalba e Kaiki; Lucas Romero e Lucas Silva; Matheus Henrique e Wanderson; Matheus Pereira e Kaio Jorge. O São Paulo em 3-5-2: Rafael; Nahuel Ferraresi, Alan Franco e Sabino; Cedric Soares e Patryck nas alas; Damián Bobadilla, Pablo Maia e Rodriguinho por dentro; Luciano e Ferreira na frente. Dois desenhos diferentes que criaram um jogo de xadrez tático.

O Cruzeiro empurrou as linhas desde cedo, acelerando a pressão no primeiro passe do São Paulo. Com William e Kaiki altos, a equipe alargou o campo e abriu corredores para Matheus Pereira e Wanderson circularem entre zagueiros e alas. Matheus Henrique, o único “novo” do onze, deu ritmo, alternando coberturas com Lucas Romero e oferecendo passe vertical para quebrar a última linha. A Raposa controlou os espaços centrais sem se expor, marca de um time que vem se sentindo confortável com e sem a bola.

O plano do São Paulo pedia paciência. Crespo quis amplitude real com Cedric e Patryck e diagonais de Ferreira para atacar o espaço nas costas dos laterais. Luciano baixou para dar opção entre linhas e atrair um dos volantes celestes, enquanto Pablo Maia organizou a saída por baixo para evitar chutões. Quando conseguia encaixar essa primeira fase, o Tricolor ganhava campo e tinha cruzamentos promissores. Faltou transformar volume em finalizações limpas.

Sem grandes chances claras no começo, a partida foi se definindo em detalhes: segundas bolas, transições curtas e duelos individuais. Fabricio Bruno e Lucas Villalba leram bem os movimentos de Luciano e fecharam a área. Lucas Silva, discreto e eficiente, encurtou linhas e abafou Rodriguinho. Do outro lado, Ferraresi impôs respeito no jogo aéreo e Sabino cobriu as diagonais com tempo, enquanto Rafael coordenou a defesa para evitar mano a mano contra Kaio Jorge.

O gol que pesou na tabela e a leitura dos técnicos

O gol que pesou na tabela e a leitura dos técnicos

O 0 a 0 durou até os 64 minutos, quando a insistência celeste furou o bloqueio. Em jogada trabalhada com paciência, o Cruzeiro fez a bola girar, atraiu o São Paulo para um lado e encontrou Matheus Pereira livre para finalizar com qualidade. O meia vive fase de protagonista e mostrou de novo por quê: leitura de espaço, calma na tomada de decisão e chute no tempo certo. Gol de quem decide jogo travado.

Depois de sofrer, o São Paulo precisou se expor. Os alas subiram ao mesmo tempo, Pablo Maia adiantou o posicionamento e Bobadilla passou a pisar mais na área, tentando empurrar o Cruzeiro para trás. A Raposa respondeu com controle emocional: cadenciou quando necessário, escolheu os momentos de pressionar alto e, quando recuperou a bola, valorizou cada posse para esfriar o ímpeto do adversário. Jardim não desmontou o time; manteve as referências e protegeu a vantagem sem recuar demais.

Do ponto de vista tático, a chave foi a ocupação dos meio-espaços pelo Cruzeiro. Matheus Pereira e Wanderson fixaram os zagueiros abertos do São Paulo, o que forçou Alan Franco a hesitar entre sair para o combate ou proteger a área. Quando o Tricolor ajustou essa cobertura, o time mineiro passou a acelerar por dentro, com Romero quebrando linhas no passe de primeira. Não à toa o lance do gol nasce de paciência e repetição de padrão até abrir a brecha.

O São Paulo teve seus momentos. Quando acelerou a circulação de um lado ao outro, principalmente com inversões de Cedric para Patryck, encontrou cruzamentos em boas condições. Faltou refino no último passe para acionar Ferreira atacando a segunda trave e mais presença de área dos meio-campistas. Sem esse detalhe, a linha de quatro do Cruzeiro conseguiu defender a área sem pânico, com Cassio seguro nas bolas levantadas e saídas atentas para cortar lançamentos.

Individualmente, alguns duelos explicam o placar. Lucas Romero venceu a batalha física com Pablo Maia em várias disputas de segunda bola, o que deu ao Cruzeiro mais pontos de partida para atacar. Kaio Jorge alternou bem apoio e ataque à profundidade, puxando a zaga tricolor para longe da área e abrindo corredor para Matheus Pereira finalizar. No São Paulo, Ferraresi e Sabino foram firmes em coberturas longas, e Luciano, mesmo batalhando entre os zagueiros, teve pouco serviço limpo.

Resultado na mão, a leitura de Jardim foi pragmática: não era noite de espetáculo, e sim de pontos. A equipe não confundiu intensidade com correria. Quando o jogo pediu perna, apareceu organização; quando exigiu ousadia, veio a aceleração por dentro. É a assinatura recente do Cruzeiro: controle de risco, confiança na bola parada e no talento de seus meias para decidir em jogadas trabalhadas.

No macro, a vitória pesa. Com os três pontos, o Cruzeiro vai a 44 e encurta a diferença para o Flamengo para dois pontos naquele recorte de rodada. Em um campeonato de margens curtas, bater um rival direto e manter a sequência de boas atuações vale mais do que a estatística do dia. O time segue firme na briga pelo topo e, sobretudo, dá sinais de que tem repertório para enfrentar cenários diferentes sem se descaracterizar.

Para o São Paulo, a derrota mantém a campanha oscilante. O ajuste de Crespo com três zagueiros dá estrutura para competir fora de casa, mas o time ainda sofre para transformar domínio em chances claras quando o adversário fecha o centro. Falta um segundo movimento dentro da área – a chegada de um meia para dividir defesas com Luciano – e mais agressividade no passe vertical para acionar Ferreira em vantagem. A base é boa, a execução precisa ganhar consistência.

Vale um ponto específico: a rotação mínima de Jardim. Ao poupar só um titular, ele preservou conexões que fazem diferença. Matheus Henrique entrou e manteve o nível, o que não é trivial. Em semanas apertadas, muitos treinadores giram demais e perdem padrão. O Cruzeiro, não. Seguiu reconhecível, com as mesmas linhas de passe, os mesmos gatilhos de pressão e a mesma coordenação defensiva. Isso pesa quando o placar está curto e a margem de erro é pequena.

O ambiente também ajudou. O Mineirão respondeu ao esforço em campo, empurrou quando o time precisou respirar e celebrou um triunfo maduro. Em campeonatos longos, vitórias assim constroem campanha: jogo controlado, gol no momento certo, defesa concentrada até o apito final. Se a briga é por título, noites como esta viram referência de desempenho e de resultado.

No fim, fica a fotografia da rodada: Cruzeiro competitivo, confiante e com ideias claras; São Paulo organizado, mas pedindo mais profundidade e capricho perto da área. A tabela reflete essa diferença de momento. O Brasileirão, que não perdoa quem oscila, premiou a assertividade celeste e cobrou a falta de contundência tricolor.